Luana Piovani de plantão
- tainaseixas
- 20 de mai.
- 6 min de leitura
Venho por meio deste enaltecer Luana Piovani. Primeiro, porque considero a expressão “venho por meio deste” um bálsamo da língua portuguesa e acho chato todos aqueles que a reprovam. Segundo, porque Luana Piovani, a despeito de todas as minhas próprias expectativas, tem se tornado uma das figuras públicas cujas opiniões e uso de sua plataforma considero muito acertados e assertivos - e essa afirmação contém nenhuma dose de ironia.

A atriz, apresentadora, produtora teatral e influencer começou sua carreira como modelo, uma indústria extremamente difícil para mulheres e cujo potencial de dilacerar saúde mental, autoestima e segurança de habitar o mundo com autenticidade é imenso - e sobreviveu a essa experiência. Na sequência, se lançou como atriz, trabalhando em novelas e minisséries de grande sucesso (Quatro por Quatro, Malhação, O Quinto dos Infernos) em um período em que havia a completa hegemonia da TV Globo no entretenimento audiovisual brasileiro, além de atuar em grandes produções cinematográficas brasileiras, como o Homem que Copiava (filme pelo qual, inclusive, recebeu o Grande Otelo), Zuzu Angel e A Mulher Invisível.
Mas não é para falar do sucesso de sua carreira que este texto está sendo escrito, e sim para destrinchar o uso de sua visibilidade para além de suas atuações roteirizadas: é o improviso de Luana Piovani que mais me encanta. É lugar comum falar que a atriz está sempre envolvida em alguma polêmica. O que poucos falam, no entanto, é que ela costuma estar coberta de razão. Beleza, se expõe demais. Muita gente acha que ela habla desnecessariamente – e aqui preciso também pontuar que essa suposta desnecessidade também vem muito embutida de rejeição às coisas que as pessoas não querem ouvir.
A coragem de se colocar nesse lugar de vulnerabilidade para defender e expor questões sérias e hipocrisias da sociedade brasileira nesse mundo com valores tão deturpados é de uma bravura a ser contemplada. A ousadia de Piovani, uma mulher que certamente já foi coagida (afinal de contas, que mulher não foi?) a se encaixar em certos espaços e se silenciar diante de situações reprováveis, é louvável e devia ser exemplo a todas nós bruxas e vadias, ou seja, mulheres que simplesmente se recusam a se submeter ao patriarcado. Listo abaixo algumas vezes em que Luana Piovani riu na cara do perigo:
1) Vou começar pelo caso mais recente, o da Virgínia, influencer conhecida por supostos trambiques, exposição de seus filhos pequenos, ostentação extrema em um país com grande desigualdade social, uso de Deus para justificar tudo que não tem justificativa alguma e, claro, promoção de jogos de azar. Com este preâmbulo, nem preciso falar o que penso sobre a moça, e é evidente que Luana Piovani concorda. A atriz, revoltada com o show midiático promovido por Virginia Fonseca Serrão Costa na CPI do Senado Federal na semana passada, fez um apelo aos seus seguidores para que parassem de “fazer cruéis famosos”, chamou a influencer de “excomungada” (enganar pobre e ganhar dinheiro às custas da ruína alheia não me parece, de fato, coerente à doutrina cristã) e ainda lançou uma maldição à mãe da ‘Floflô’. Ontem, inclusive, Virginia voltou a debochar de seus seguidores cantando, em vídeo, uma música do marido enaltecendo o jogo do tigrinho. Maldição pouca, é bobagem; tamo junta, Lulis.
2) Ela também deu visibilidade aos relatos de Mariana Goldfarb sobre a relação abusiva que viveu, supostamente, com Cauã Reymond. Ator o qual foi apontado como machista e tóxico também por outras ex-companheiras e colegas de profissão. Na ocasião, ela disse: "Uma banana pras mulheres machistas que falam merda. Uma verdade sabida para sempre sobre o fazedor de publi, que é abusivo. E um viva para a mina que não tem vergonha de dizer que se apaixonou e se fudeu".
3) Em maio de 2024, @luapio foi às suas redes criticar o suposto apoio de Neymar à absurda PEC que permitiria a privatização das praias brasileiras. Esta chancela se daria devido ao fato de o jogador de futebol ser parceiro comercial da incorporadora Due para a construção de um condomínio de luxo entre os litorais de Pernambuco e Alagoas. Bizarro, certo? Eu esperaria que qualquer um pensasse assim (ingenuidade minha, uma vez que vivemos no Brasil em que Jair Bolsonaro é ex-presidente), e nossa mãe, governadora da Guiana Brasileira, o rotulou como “péssimo pai, homem, cidadão e marido” em seu Instagram. Se você, assim como eu, é minimamente familiarizada com páginas de fofoca, vai saber que a diva apenas disse o óbvio. Mas o menino que nunca cresce Neymar ficou ofendidíssimo e está processando a atriz por injúria e difamação. E, rapaz, dá-lhe coragem pra enfrentar um bilionário, infelizmente ídolo nacional da machaiada, nos tribunais. Que a Justiça esteja contigo, Pio.
4) E a Lua tá tendo que lidar com outro processinho, de outra péssima cidadã, a Sari Corte Real. Lembram dela? A mulher branca e rica que deixou o menino Miguel, de apenas 5 anos que estava sob sua responsabilidade, morrer ao cair do 9º andar de seu condomínio de luxo em Pernambuco, em 2020. Na época, o mundo atravessava a pandemia de covid-19, que requeria isolamento social e Sari e seu marido, um ex-prefeito de Tamandaré, cidade próxima à Recife, em vez de manterem suas empregadas domésticas em suas casas, de forma remunerada, as convocaram para não terem que fazer suas tarefas domésticas (e elas eram pagas com dinheiro da prefeitura de Tamandaré, diga-se de passagem). Miguel estava sob supervisão de Sari porque sua mãe, Mirtes, havia sido recrutada para passear os cães do casal de patrões. A Sari tá dizendo pra Justiça que a Luana violou sua “honra e dignidade”. Acredito eu que a sequência desses fatos tenebrosos evidencia que foi Sari Corte Real que violou sua própria honra e dignidade, além, obviamente da família Santana que foi condenada a viver em luto. Luana apenas apontou o óbvio e disse, em seus stories, que Mirtes está até hoje lutando por Justiça enquanto a ex-patroa condenada por abandono de incapaz com resultado de morte, já teve sua pena reduzida e aguarda em liberdade.
5) Outro processo que a Luana tem em seu currículo por hablar verdades foi movido pelo ator Kadu Moliterno e já teve resolução, com vitória da governadora da Guiana Brasileira. Em 2018, a atriz postou em seu canal do Youtube um vídeo em que relembrava que Moliterno agrediu a ex-companheira, Ingrid Saldanha, em 2016, sem consequências aparentes para sua vida pessoal e carreira. No caso, a juíza Cintia Souto Machado de Andrade alegou que a menção ao caso foi respaldada pela “garantia de liberdade e manifestação do pensamento”. Judged!
6) E, claro, tem o famoso caso da agressão vivida por ela própria pelo ex-namorado, Dado Dolabella. Ela o denunciou em 2008 por agressão física e conseguiu uma medida protetiva que impedia Dado de se aproximar dela. Homem este que tem outros registros de agressão a mulheres e, inclusive, já afirmou que preferia ser preso a ter que pagar pensão alimentícia a seu filho.
7) A atriz relata também que foi assediada pelo falecido diretor da TV Globo Carlos Manga e que, ao ter se recusado a sentar no colo do homem, pode inclusive ter sido retaliada pois, pouco tempo depois, foi retirada da novela Anjo Mau, cujo diretor era o próprio Manga. Um viva para quem denuncia assédio de pessoas em posição de poder, mesmo sabendo a facilidade com que a violência pode se voltar contra si mesma.
8) Por fim, quero lembrar que, em 1997, Luana Piovani foi flagrada traindo em pleno carnaval seu então namorado Rodrigo Santoro. Se hoje em dia uma traição inventada na cabeça de seguidores de Luísa Sonza contra Whindersson Nunes fez com que ela sofresse vários ataques misóginos, imagina no final dos anos 90. Nas palavras de Piovani, “Eu tinha 22 anos. O Brasil me fez de Geni, mas sempre tive minha estima muito organizada. Fui Geni durante uns três anos, 'taca pedra na Geni, ela dá para qualquer um, maldita Geni'. Eu namorei esse rapaz por três anos, eu traí e rompi, não traí e voltei.”. Ela relata, inclusive, que depois do término descobriu que ele a havia traído antes – o que eu mega poderia ter previsto, uma vez que homens não costumam viver relacionamentos monogâmicos para as duas partes. Luana foi execrada porque como ousava uma mulher trair um homem em 1990? Se hoje é assim, imagine naquela época. Por isso, sou do time “Capitu não traiu, mas devia ter traído”. Obrigada, Luana, pela reparação histórica à detentora dos olhos de cigana mais famosa do Brasil.
No Instagram, onde se descreve como “atriz e ativista pelos direitos das mulheres e crianças”, Luana tem mais de 5,5 milhões de seguidores. No Facebook, Luana também dá as caras alcançando um público mais velho e contabiliza mais de 1 milhão de fãs. Seu canal no Youtube tem 365 mil inscritos e se chama Luana Sem Freio, onde ela dá a letra: “Sempre fui conhecida por não ter medo de dizer o que penso”. E de acordo com o UOL, sendo filha de advogada e confiando na Justiça, ela vai continuar assim. Taí um ótimo uso de plataformas, dizer coisas que precisam ressoar em uma sociedade que insiste em violentar as pessoas historicamente já vitimizadas. Que Luana continue sem freio porque até quando erra, a mona acerta.


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